quinta-feira, 30 de abril de 2015

Onda prateada


Ah, um presságio desde 2013, quando deixei meus brancos virem com a gravidez da minha filha, comecei a surfar as ondas prateadas sem saber que encontraria outras surfistas, algumas mais veteranas que se arriscavam no corais das opiniões alheias sem se incomodar com os arranhões etc. Surfar esta onda requer coragem,  não é moda não! É atitude.

Há dois anos que a mídia começou a chamar atenção dos pratas na cabeça feminina.  Agora, se a moda pega conforme a tendência de 2015, imagina, as mulheres que fazem opinião pública no país, as esposas de políticos, as modelos, as atrizes, todas de cabelos cinza??? Como os salões de beleza devem ser repensados e dá-lhe tubinhos para imitar o cinza natural! beijos e boa noite


Mulheres Prateadas: Ananda Martins

Apresentamos a adorável entrevista com a bela e  jovem Ananda Martins, militante de ações de cidadania urbana e doutoranda em geografia que tem uma relação mais que madura com seu corpo e seu lindo cabelo castanho adornados com fios prateados!




1.    Ananda, conte um pouco  de você, da sua trajetória de vida. 
Meu nome é Ananda Martins, tenho 32 anos e nasci em Americana (SP), e depois meus pais se mudaram para Pernambuco quando eu tinha 2 meses de idade, onde estava a família da minha mãe. Então, com o sotaque que me é peculiar, sempre digo que sou mesmo é pernambucana. Em Recife me formei em Geografia na UFPE, e fazendo pesquisa na área de geografia urbana comecei a buscar o sentido e a utilidade do que alguns chamam do “fazer geográfico”. Decidi, então, que iria continuar minha formação e há 8 anos vim pra Brasília pra fazer o mestrado, que terminei em 2009; vi que não cabia mais em Recife, e fui ficando em Brasília onde me adaptei com alguma tranquilidade. Agora faço o doutorado em Geografia também na UnB, e por meio das atividades de pesquisa, junto com alguns pesquisadores/militantes, faço parte de um coletivo chamado Lutas Urbanas, que tem como objetivo apoiar as lutas urbanas e os movimentos sociais que fazem a luta pelo direito à Cidade.
2.    Qual é a relação que você tem com seu cabelo?
Eu nunca fui de fazer muita coisa nos cabelos em termos de coloração, sempre achei mais legal pensar os cortes do que qualquer outra coisa; talvez tenha sido o trauma de quando era criança que minha mãe me cortava os cabelos curtos por conta de piolho ou coisas assim [risos]. Então, na adolescência sempre os tive mais longos e nos primeiros anos em Brasília optei por tê-los mais curtinhos. Acho legal a composição que o cabelo dá na tua personalidade, mas, ao mesmo tempo, antes de completar 30 anos não me preocupava com cuidados estéticos com taaaanta atenção.
Sempre quis ter os cabelos cacheados – é parece que a gente nunca tá satisfeito com o que tem, mas na impossibilidade de que isso acontecesse (rsrsrs) fui, aos poucos, explorando o que podia, mas ainda assim sem tanta neurose. Hoje me dia até tenho um pouco mais de cuidado, não compro qualquer produto, fico atenta à hidratação, mas mantenho a filosofia da “neurose Zero” [ahahaha], e funciona bem, tem dia que acho que o cabelo está lindo e tem dia que nada dá jeito, assim somos. 
3.    Quando os primeiros fios de cabelo branco/prata apareceram, como você reagiu e se sentiu? Como as pessoas ao seu redor reagiram, se sentiram e, se caso te aconselharam, quais foram estes conselhos?
Lembro-me que estava na faculdade (graduação) quando surgiu meu primeiro fio, assim discreto. E lembro que fiquei muito brava porque um colega viu e sem fazer alarde começou a mexer no meu cabelo e, de repente, ele arrancou; tinha uma sensação do tipo “Que massa! Meu primeiro fio branco!” [ahahahaha] e ele sorrateiramente me tirou isso. Bem, desde então, aos poucos outros foram aparecendo e não me incomodava. Sempre tive uma relação com minha avó paterna (Laiz) muito próxima, apesar de morar em PE e ela em SP, e a achava tão linda e elegante com aqueles cabelos brancos dos quais me recordo até hoje que não me fazia pensar: “Meus Deus! Estou ficando velha antes do tempo!”, ao contrário, pensava “Que legal! Vou ficar linda igual a minha avó, minha flor Laiz”. Então, em relação essa coisa do envelhecer e os cabelos brancos que chegaram tão cedo, na maior parte de tempo (salvo alguns momentos de crise) olhei pra frente, já que com eles vieram também as ricas experiências que ajudaram a compor a pessoa que me tornei.
Já a reação das pessoas tem que ser avaliadas por fase né!? Como no início tinha poucos e estavam mais escondidos, às vezes tinha até q mostrar pra serem vistos, e acho que as pessoas pensavam “essa garota é louca!”; já em Brasília, no decorrer do mestrado eles já era um pouco mais, e tinha época que pintava em casa mesmo, ou fazia mechas, e as pessoas falavam “nossa, mas você é tão novinha pra ter cabelo branco” ou “gente! O que aconteceu contigo que tá cheia de cabelos brancos!?” ahahahaha é a vida né!?
Já no doutorado eles proliferaram bem mais, já não estavam tão escondidos, e até 1 ano atrás, eu acho, eu ainda tonalizava, até que desisti e passei a curtir como estavam fazendo minha cabeça (literalmente), e nessa última fase as reações são as mais diversas: meu companheiro acha legal! Diverte-se dizendo que meus cabelos estão quase pretos (pra não dizer o contrário, já que enquanto tonalizava relutava um pouco em assumi-los – vê a falta que a minha Vó me faz!?); os amigos que me veem com menos frequência ficam surpresos e dizem: “Mas você não tinha esse tanto de cabelos brancos antes...” Alguns com ar de que estão achando legal, outros nem tanto. 
4.    Com que freqüência você pintava seus cabelos antes e de que cor(es)?
Mesmo depois dos 30 me preocupava muito mais com a hidratação do que com a coloração, e sempre optei pela cor mais próxima do meu tom natural (castanho escuro); fazendo assim, tonalizava a cada 2 meses, em casa mesmo pra economizar. Então, pra fazer algo um pouco diferente teve um tempo que comecei a fazer mechas pra quebrar um pouco a mesmice e isso também tinha um intervalo de 2 meses, já que não aparecia tanto a raiz em meio as mechas de tom castanho claro e mel. Salvo uma ocasião que mudei de salão pra economizar, cheguei lá dizendo que queria manter as mechas, mas que em hipótese nenhuma queria que ficassem douradas, ou seja, loira, e foi justo o que fez a cabelereira, então, voltei ao tom do meu cabelo por segurança.
5.    Você tem noção de quanto economiza deixando de pintar os cabelos?
Enquanto fazia em casa o gasto financeiro não era muito alto, de 20 a 30 reais; mas quando passei a fazer as mechas no salão começou a pesar no bolso, pois variava entre 200 a 300 reais. Além do investimento de tempo, já que você ficava pelo menos 2h ali considerando todo o processo. Então, além da economia de dinheiro, tem-se que considerar o que me é ainda mais caro que é a economia de tempo, porque dali em diante, muito provavelmente, a frequência aumentaria, além do dinheiro, e o que inicialmente seria um investimento passa a ser um gasto (de diferentes ordens) que me fez questionar se estava mesmo disposta a pagar. Enfim, decidi que não estava muito afim de, entre tantas demandas, continuar com mais essa.
6.     Quais foram os motivos que levaram a esta decisão de deixar seus fios brancos/pratas em paz?
Nunca tive problema com os fios brancos, ao mesmo tempo, tinha vontade de mudar um pouco o visual – e confesso que às vezes ainda penso em fazer algo.  Ou seja, não tenho uma postura ideológica em relação a isso, acho que as pessoas tem que fazer aquilo que traz o sentimento de estar bem consigo mesma; no meu caso, a composição que esses fios têm dado me agrada bastante e passou a ser apenas mais um elemento na minha esquisitice de cada dia [ahahahaha].
Muito embora, eu me lembre de que isso não foi, no início, uma opção consciente, já que resolvi dar um tempo da tonalização quando usei uma henna que deixou meu cabelo com 3 cores diferentes; aí bateu aquela preguiça de arrumar aquela bagunça, e a observação mais atenta dos cabelos brancos nesse período passou a me fazer sentir que esse poderia ser um processo interessante: assumir os fios brancos e começar a deixar a cabeça pratear.
7.    Como os seus amigos, familiares e estranhos reagem e reagiram a esta decisão?
Atualmente, além da reação do meu companheiro, que parece gostar, há também a surpresa de amigas que não acreditam como posso ter esses fios já há tanto tempo, mas acham bacana e gostam da composição, assim como eu. Há situações em que embora a pessoa ache bacana, sempre tem uma sugestão para disfarçar esses fios, e as melhores opções vem de Juana Franco, do Studio DaRuca, onde corto o cabelo; Juana é uma excelente colorista, e vendo o seu trabalho às vezes me convenço que pode ser legal dar uma variada, até porque tenho certeza da lindeza que ela consegue fazer nos cabelos não só da mulherada, mas também do seu público masculino, mas logo me atento para esses fios e de verdade gosto de como me vejo com essas mechas prateadas. Então, novamente desisto dessa mudança e passo a apostar em outras (cortes, batons, unhas...). Mas, não dá pra agradar todo mundo né!? Um dos meus melhores amigos bate o pé e diz “vai pintar esse cabelo menina! Você é muito nova pra ter esse tanto de cabelo grisalho, parece desleixo!” kkkkkkkkk Só deixo falar porque é ele, se fosse outro dava o limite na hora para parar de cuidar dos cabelos brancos alheios [risos].
8.    Como você se descreveria em relação aos seus cabelos prateados e a maturidade?
Duas palavras poderiam fazer essa descrição, se isso fosse algo de fato simples, seriam elas: (1) Felicidade e (2) Gratidão. Felicidade pelo simples fato de não ser essa uma questão a qual eu dê importância a ponto de definir o bem estar comigo mesma e com aqueles que me cercam, afinal faz parte da vida virem os fios brancos/pratas, as rugas, as gordurinhas que aos 20 anos a gente achava que jamais apareceriam, enfim... Em uma sociedade tão vinculada à imagem e ao consumo gerado para manutenção desta, assumir a maturidade e tudo que ela traz, inclusive fisicamente, parece-me algo saudável; muito embora, advogo que não são as intervenções que você faz no seu corpo, do ponto de vista estético, que faz com que o processo não seja saudável (não estou dizendo que não devemos fazer qualquer mudança), mas devemos ter atenção à motivação pra essas intervenções, pois talvez nos leve a questões de outras ordens, que não exatamente a estética.
A Gratidão... Esse é um exercício diário e me leva na verdade a enxergar que o processo de “estar prateando” é resultado de oportunidades e aprendizados que a Vida pôde me proporcionar. E estes foram necessários ao meu crescimento em um movimento no qual reconheço que a vida não é fácil, que a gente passa por poucas e boas, mas que a gente também deve aprender com tudo isso, e se permitir viver todas as alegrias e as dores, com gratidão aos anjos em forma de amig@s a quem a Vida nos apresenta e presenteia. Então, vejo os fios brancos, nesse caminhar também como um presente que me lembra sempre que, apesar de haver um longo caminho pela frente, eu já dei alguns bons passos, eles são parte das minhas experiências, nem sempre agradáveis, mas sempre importantes.

Mulheres prateadas: Rita Telles

Uma entrevista emocionante de "Mulheres Prateadas" com Rita Telles, mulher trabalhadora,
de fibra, corpo e alma fortes que atravessou rios e montanhas para conseguir hoje desfrutar de seus fios prateados.



1-    Olá Rita, conte um pouco da sua trajetória de vida.
Moro no litoral paulista com meu marido, mas por muitos anos morei em Brasília, trabalhei com finanças internacionais em organismo internacionais,  viajava muito e tenho orgulho em dizer que fiz parte do grupo que erradicou a Poliomielite no Brasil. Mas  veio com um custo: eu passava uma semana em Brasília e outra no Brasil e acabava administrando minha casa através do telefone. Quando me casei pela primeira vez ainda jovem, aos 20 anos, tive meus 3 filhos amados com 24, 28 e 30 anos.  Me separei e catorze anos depois me casei novamente com meu atual companheiro. Quando meus filhos optaram ir viver com o pai, sofri muito a falta deles. Infelizmente,  há 8 anos perdi meu caçula. Mas apesar de todas essa falta e dor, nunca tive vocação para tristeza.  Sempre fui alegre, e divertida e tanto minhas filhas quanto todos amigos de meus filhos gostam muito de mim. E para minha sorte, nestes últimos 8 anos difíceis  da minha vida, minhas duas filhas me deram quatro netos, dois meninos e duas meninas. Sou uma avó super coruja que ama e é amada demais pelos meus netos.  Eles me fortalecem e me dão  impulso de vida. Agora,  minha vida com meu marido é entre a praia e passar tempos com minhas filhas e meus netos.


2- Qual a relaçãoque você tem com seu cabelo? 
Sempre fui vaidosa e cuidadosa com meus cabelos, por serem muito lisos passei a maior parte dos anos com meu corte Chanel pois era mais prático de estar pronta e arrumada sempre. 

3- Quando apareceram seus cabelos prateados, qual foi sua reação e a dos seus amigos e familiares? 
Apareceram aos 30 anos, não houve nenhuma situação de crítica ou comentário sobre isto, pois eu pintava da cor do meu cabelo. Aos 32 anos fiz mechas mas não gostei e voltei a tentar a ter a mesma cor (castanho ou vermelho). No começo, a cor durava quase 1 mês mas com o passar dos anos passei para 15 dias e nos últimos tempos os retoques eram quase semanalmente. Pintar os cabelos era uma necessidade, pois a visão que se tinha é que cabelos brancos significava e mostrava sinal de desleixo pessoal.
Depois, quando meu filho ficou em coma 45 dias e fiquei com ele na UTI, foi a primeira vez que deixei meus cabelos ao natural por falta de condições e ânimo de pintar, dai cortei curtinho e vi minha cabeça bem grisalha. Gostei e pretendia conservar os fios brancos. Mas logo após seu falecimento aconteceria a formatura da minha filha com baile e tudo mais,  e ela me pediu que pintasse de vermelho e ainda sob o impacto dos acontecimentos pintei conforme o desejado por ela.  Ficou bem,  mas não era minha real vontade.  E aí voltei a pintar  de novo

5- Quanto economiza não pintando mais o cabelo? 
Nunca fiz as contas desses valores, qualifiquei o meu ganho pelo meu bem estar, que é muito maior.

6 - Quais foram os motivos para deixar seu cabelo pratear? 
Basicamente por sentir melhora na minha qualidade de vida e bem estar. Quando decidi deixar meus cabelos prateados virem consultei minhas filhas e elas me deram todo apoio. No começo ouvi de alguns amigos a cobrança da pintura e o questionamento do porque não estar colorindo. Mas ouvia  voz do meu coração que pedia há oito anos que eu deixasse vir os fios prateados com aceitação e naturalidade.

7 - Como lida com a maturidade e seus prateados? 
Estou tranquila e curtindo muito os meus prateados,  passei a usar shampo desamarelador pois moro na praia.  E pra dizer a verdade com 59 anos e com a cabeça grisalha senti mais naturalmente a maturidade ser confirmada e segura da minha escolha.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Mulheres Prateadas: Elisa Carneiro

Esta semana abrimos a série de entrevistas "Mulheres Prateadas" com a encantadora escritora e gastrônoma Elisa Carneiro, mãe e avó que alimenta sua familia com deliciosos bolos e ternura, e acolhe seus cabelos prateados com naturalidade e beleza da luz da Lua!





1.     Conte um pouco  de você, da sua trajetória de vida, da sua profissão, família, sua idade atual, e se tiver, filhos e netos? Nasci em Brasília, filha de uma família pioneira. Papai chegou em 1957, como médico com mamãe professora . Somos oitos filhos,sete mulheres e, um homem. Sou escritora, e cozinheira, nada de CHEF. Faço bolos, os quais inventei as receitas , mistura de poesia com fogão . Fiz magistério, lecionei um tempo, e depois parei. Fiz gastronomia por prazer de cozinhar . . Hoje me dedico a escrever o que minha alma pede. Casei aos dezesseis anos,  duas filhas e um filho, e duas netas encantadoras, meus doces prontos, presente do universo.  A vida é leve, sem medo aos meus cinquenta e dois anos. 

2.     Qual é a relação que você tem com seu cabelo prateado? Amo o meu cabelo, nunca pintei não gosto das tinturas químicas. Aos vinte e três anos, o primeiro fio prateado chegou e virou meu parceiro. Não tive problemas com os primeiros fios brancos. Sempre me senti serena, a aceitação foi natural. À medida que foi chegando cada fio, mechas brancas se tornaram um arco-íris de duas cores.  Mas no início a pressão das minhas irmãs foi complicada, e algumas sobrinhas, mas sei que não gostam, mas não me importo. Muitas amigas, que hoje assumem seus cabelos brancos dizem que eu abri o caminho para elas aceitarem seus prateados. Salve!

3.     Como você se descreveria em relação aos seus cabelos prateados e a maturidade? Minha relação com maturidade e meus fios prateados pode ser resumida em: Muito bem resolvida, me acho uma mulher linda, adoro olhar no espelho e ver os meus cabelos prata. Uma noite, no barzinho, lua cheia e, de repente um rapaz me chama e, diz que os meus cabelos cor-de-prata era o casamento perfeito com aquela lua. As marcas do tempo são danças na minha alma. Sou uma mulher urbana, boêmia que ama a vida. Mulher prateada, filha da lua, beijos luz prata!

sábado, 25 de abril de 2015

Poesia Prateada de Teresa Vignoli

Outro dia recebi na minha linha do tempo um presente maravilhoso, um poema curto da poetisa Teresa Vignoli.
Sem nos conhecermos, mas com vários amigos especiais em comum, ela com sua linda cabeleira prateada, deixou sua mensagem de beleza e aceitação ao me aceitar como amiga dela numa destas redes de amizade online.  Depois ao conversarmos mais por sms, ela compartilhou outro lindo poema, sobre maturidade e envelhecer. Quando leio e releio estes poemas, meu pensamento abre um sorriso, e penso: sim, fiz a escolha certa ao ter aceito quem eu sou, meus pratas, e minhas rugas. Mesmo que nesta escolha pela maturidade, eu tenha que escutar  a "senhora" etc e outros nomes que rimam com "granny look", a nova moda de pintar de cinza os cabelos em 2015. Acabo de me apaixonar por quem eu estou me tornando, isso é autentico, é verdadeiro.
Gratidão, Teresa, pelo regalito que acende minha alma de uma luz calma e prateada e atira uma pedra na imagem narcisista que temos de nós mesmos! Compartilho aqui o carinho e a sabedoria delicada de seus versos, como antepasto de sua entrevista que sairá num futuro breve aqui neste blog.


_____Pincéis de vento_____
Poética prata nos cabelos
pintada pelos passos na estrada.
A beleza do Tempo
acolhido em nossos braços,
a serenidade de estar em cada idade.
A estética da alma é calma.


 _____Metanóia_____
Transparente
vai ficando
o toque dos olhos
na vida.


Transparente e cálido
o contorno do corpo,
avesso do contorno do mundo,
vidro vivo se torna
no cume da montanha.


Subimos ofegantes os anos opacos,
as pernas rápidas,
brilhos nas matas,
brilhos nos homens.

Até chegar ali:
no patamar do nada.


O espelho do lago assusta
mostrando os traços já cansados,
até que uma pedra sábia
sacode em círculos nossa
imagem:

a transparência mostra
a fina juventude da alma,
conquistada com as rugas.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Mulheres Prateadas: Anna Muylaert

Fechamos a segunda semana da série de entrevistas "Mulheres Prateadas" com chave de ouro: a cineasta Anna Muylaert nos presenteu com uma rápida entrevista.
Quando convidamos Anna para ser entrevistada, esperavamos receber um grande "Não, obrigada,  estou muito ocupada agora". Porém, a surpreendente generosidade da bela mulher nos contemplou com um sortudo "sim, grata, manda o questionário agora". A resposta veio com uma rapidez ainda mais incrível, duas horas após receber o convite!
Anna concedeu esta entrevista no meio do turbilhão de outras entrevistas e viagens para apresentar seu premiado filme "A que horas ela volta?" (Sundance Festival, Berlinale Festival).

Anna, 51, é casada e mãe de dois filhos, José, 20, e Joaquim, 15. Ela é formada em cinema pela USP, e tem uma longa estrada como roteirista em TV (Mundo da Lua, Castelo Rá-tim-bum, Disney Club, Um menino muito maluquinho, Alice) e cinema (Filhos do Carnaval, O ano em que meus pais sairam de férias, Quanto dura o Amor?), e diretora (Rock Paulista, A origem dos bebês segundo Kiki Cavalcanti, e os premiados longas Durval Discos, É proibido Fumar).

Anna desafia os padrões impostos na sociedade, com humor, inteligência e sensibilidade em sua arte que toca a tantas nós. Assim dedicamos, no mês de seu aniversário, esta pequena e proveitosa entrevista sobre sua relação de empoderamento com sua juba castanha e seus fios prateados.


1.     Qual é a relação que você tem com seu cabelo?

             A relação com os cabelos foi mudando ao longo da vida. No início eram lisos e quando ficaram crespos na puberdade,  passei a não gostar deles. Curtos, cumpridos, louros. Principalmente curtos.  Até que há uns dez anos ficaram cacheados e passei a usá-los longos e gostar deles.

    2.     Quando os primeiros fios de cabelo branco/prata apareceram, como você reagiu e se sentiu? Como as pessoas ao seu redor reagiram, se sentiram e, se caso te aconselharam, quais foram estes conselhos?

            No começo eu quis pintar. Usei hena uma vez e acabou o cabelo.  Cortei e nunca mais fiz nada. Quando fiz 40 anos, fui a Chicago e vi todas as mulheres lindas de cabelo branco, aí comecei a achar cafona pintar o cabelo.  As assistentes e o meu cabelereirono começo, tentavam me convencer a pintar, mas depois desistiram.

3.     Com que freqüência você pintava seus cabelos antes e de que cor(es)?
            Pintei o cabelo só quando era novinha de louro uma vez, de preto uma vez.


4.      Quais foram os motivos que levaram a esta decisão de deixar seus fios brancos/pratas em paz?

Acho que deixar os fios prateados era mais bonito e mais chique.

5.     Como os seus amigos, familiares e estranhos reagem e reagiram a esta decisão?
Ninguém comenta, o cabelo está bom, está tudo certo.


6.     Como você se descreveria em relação aos seus cabelos prateados e a maturidade?
Meus cabelos ainda nao são prateados. Sou morena com cabelos brancos. Acho que aceito os cabelos brancos como aceito o corpo e tudo mais. Faz parte da maturidade a aceitação da vida e suas fases.










quarta-feira, 22 de abril de 2015

Mulheres Prateadas: Nádima Nascimento


A série "Mulheres Prateadas", orgulhosamente, apresenta Nádima Nascimento, doutora em Desenvolvimento Sustentável, artista, candidata a deputada distrital e escritora, mulher de muitos talentos que ama a natureza, seus filhos e seus cabelos cor de prata!! 

1.    Olá Nádima, conte um pouco  de você, da sua trajetória de vida, da sua profissão e de sua família. 

Vim do Rio de Janeiro em 1961, quando meu pai foi transferido para Brasília. Aqui sempre vivi e estudei em escola pública (304Sul, Escola Parque, CASEB, Elefante Branco, UnB). Sou Matemática, Ecóloga e Doutora em Desenvolvimento Sustentável. Fui professora do Colégio Militar. Pertenci a equipe que implantou a Rede Internet no Centro Oeste. Atuei nas mais diversas vertentes ambientais, da elaboração de políticas,  implementação das convenções, a candidata a deputada distrital pelo partido verde. Especialmente, junto a Convenção de Combate à Desertificação, estruturei projetos de gestão integrada em saúde ambiental e municípios saudáveis para o interior do nordeste, e fui especialista da ONU em Ciência e Tecnologia pela América Latina e Caribe. Tudo junto ao governo. Sou frequentadora das oficinas do Núcleo de Literatura da Câmara dos Deputados. Após 2008, dediquei-me a dar suporte a elaboração de projetos em ONGs de amigos e a replanejar a vida com arte em várias vertentes. Completo 60 anos em 2015.
Fui casada com o físico,  Professor Kalil (faleceu ano passado), com o qual tive três filhos: Murad Skeff (veterinário e trabalha com promoção a cultura), Narla Skeff (letras e arte)  e Nádima Skeff (futebol e nutrição esportiva nos EUA).
Moro na Chácara NasCientes, com meus filhos, onde escrevo livros (ECOSSOCIALIZAR, argumentos para o jovem cidadão socioambiental; Contos e Emaranhados, Vidas Passadas). Sou sensitiva, frequentei muitas linhas filosóficas, religiosas e terapêuticas. Há dez anos estou Budista.

2.    Qual é a relação que você tem com seu cabelo?
 A melhor possível! Já o mantive bem curto, a altura do queixo, e agora está abaixo da cintura. Quando faço exercício físicos e trabalho na terra, os cabelos mais perto da nuca, que tem ainda maior quantidade de castanhos, ficam suados e emaranhados. Por isso costumo duas vezes ao ano fazer uma selagem.Também,  lavo meus cabelos com shampoo de preferência sem sal, água sem cloro e o solto naturalmente. Meu cabelo é um pouco crespo, com os fios brancos ficou mais liso e pesado, facilitou. Só uso shampoo e cremes brancos, porém manchas de sol e produtos hoje me incomodam menos.


3.    Quando os primeiros fios de cabelo branco/prata apareceram, como você reagiu e se sentiu? Como as pessoas ao seu redor reagiram, se sentiram e, se caso te aconselharam, quais foram estes conselhos?


Eu aos 20 anos  já tinha uma pequena mecha, um sinal, foi quando entrou a henna para tratamento, modismo que eu conseguia com amiga que viera do Egito.
Aos 30 anos os brancos já transpareciam. Aos 38 deixei de passar qualquer coisa. Meu marido achou que eu pintara porque resolvera deixar como o dele. Minha filha achou que eu estava virando homem, na creche não havia mulher alguma que tivesse cabelos brancos.

Nesta época eu passei a usar um chanel longo, a mecha se dividia pelas madeixas da frente. A dificuldade foi encontrar shampoo adequado. Tudo mancha os cabelos brancos. E o que dizem ser indicados no Brasil, os roxos, em realidade são para amenizar a cor, deixam acinzentados. Eu os queria bem brancos. Cheguei a usar shampoo de cachorro branco. Mas até hoje mesmo tomando cuidado, pelo sol e produtos, ainda não os consegui na brancura que almejo.

Passei a usar também roupas que combinavam. Assim, meu guarda-roupa tem muito cinza, prateado, azul claro ou piscina, e preto e branco.  Nesse inicio, as unhas combinavam com o baton, que seriam vermelho ou cereja.

Também percebi que deveria bancar os brancos, isto é, continuar cuidando do corpo, ter hábitos saudáveis, para que se tornasse um estilo, não um relaxamento.

Agora mais velha, uso mais estampas cinza e os tons pasteis em contraste. Prefiro indumentária que tenha relação com arte, já que não preciso mais usar terninho. E voltei às unhas cristal que gosto muito. Mantenho o corpo com Bambu-Do.



4.    Com que freqüência você pintava seus cabelos antes e de que cor(es)?

Eu fazia banho de brilho de início de 15 em 15 dias, depois, de semana em semana, por conta do sinal. Primeiro henna natural, depois vermelha, depois com louro platina.


5.    Você tem noção de quanto economiza deixando de pintar os cabelos?

Sei que é bastante, principalmente porque o tenho muito longo. Entre escovas, hidratação, tintura...não menos de 800 reais.


6.     Quais foram os motivos que levaram a esta decisão de deixar seus fios brancos/pratas em paz?

Não existiram motivos maiores. A tinta, mesmo em pequena quantidade mata o cabelo, o deixa seco, sem falar na toxidade. Então, por questões de ser mais saudável, me sentir melhor, o deixei. Me sinto bonita, legítima...e ainda prateada. Empoderada de mim mesma. Além disso, minha família fica com os cabelos grisalhos ainda quando jovens. Meus filhos já nasceram com alguns cabelos brancos, hoje com idade entre 25 e 30 anos, eles não pintam os cabelos. 

7.    Como os seus amigos, familiares e estranhos reagem e reagiram a esta decisão?

Há duas vertentes. Familiares e amigas, que jamais deixariam os cabelos sem tintura até a morte. Estas sempre insistem que eu ficaria mais nova e bonita se os cortasse e pintasse. Que ficaria mais moderninha. Inclusive muitos acham que não pinto o cabelo por falta de recursos, eu respondo que eu não era mais feliz há 10 anos.  A maioria são mulheres, então brinco que não entro em concorrência com elas.

E há o eleitorado que o acha bonito, charmoso, e que me tece muitos elogios. Sou respeitada, muito parada na rua para lisonjeios. Uma forma de mantê-lo, com a qual brinco, é – se alguém me elogiar passarei mais três meses sem pintar. Hoje não conto mais, mas não ficava nem uma semana sem alguma observação positiva.    Até crianças já me chamaram de bonita (há as que choraram de susto também hahah). Estive em Savanna, Geórgia, EUA, ano passado, e foi incrível, muitas pessoas grisalhas e nunca fui tão elogiada. Uma menina fotógrafa, que começava a ficar prateada, me falou do sagrado feminino, gostei!


8.    Como você se descreveria em relação aos seus cabelos prateados e a maturidade?

A palavra-chave é Maturidade.  É assumir os louros da idade, da ombridade, da legitimidade. Ser presenteada com luzes, com os pelos prateados.
Não sou jovem, nem imatura, nem carente, e muito menos na moda. Gosto de chegar a maturidade. Me sinto bem em ter escolhas, e liberta de situações causadas por um desconhecimento de mim mesma. Sei que não agrado a todos, mas nem todos agradam a mim. Estou assim agora, envelhecendo de forma saudável e de cabelos brancos, só isso.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Mulheres Prateadas: Fátima Cabral

A cada entrevista, uma nova emoção. Abrindo a segunda semana de "Mulheres Prateadas" com muita prata e cinza maravilhosa na cabeça,  Fátima Cabral, mulher que planta sementes de paz e felicidade e colhe águas límpidas e produtos agroecológicos, mãe, avó e líder de sua comunidade no Pipiripau!



1.    Conte um pouco  de você, Fátima, da sua trajetória de vida.

Cheguei em Brasília com 01 ano  hoje  tenho 55 anos. Cresci junto com a cidade, que amo profundamente. Casei  com 18 anos, grávida sem saber nadinha da vida, cheia de sonhos  e com garra  e  uma vontade muito grande de realizar, crescer, enriquecer, ser feliz, ser livre.... Posso dizer que estou realizando meus sonhos.

Tenho uma família linda, 5 filhos, 5 netos e um tantão de amigos queridos, que crescem à medida que vou caminhando e compartilhando o meu caminhar. Vou seguindo pela vida à serviço de plantar boas sementes. Todo dia renovo meus votos de ser feliz, crescer, amadurecer. Já experimentei muitas ocupações  profissionais ao longo destes  anos. Trabalhei no Serviço Público Federal, comércio, marketing, vendas, produção de eventos, terapias alternativas, treinamento de pessoal, RH, já fui palestrante, entre outros.
Hoje estou  na área rural, trabalhando em família, em transição agroecológica, mais uma vez acreditando  e realizando mais um sonho, o de contribuir produzindo alimentos para um planeta mais saudável, responsável e limpo.
Descobrindo e fortalecendo a cada dia, a minha verdadeira missão: cuidar da natureza, plantar boas sementes, disseminar experiências e se possível viver sabiamente, amorosamente e harmoniosamente.


2.    Qual é a relação que você tem com seu cabelo?

Minha relação com o meu cabelo é o de um ser vivo, com vontades, personalidade, emoção.... acompanha meus ciclos. Uma relação de amor, pois sinto minha força e minhas fraquezas no meu cabelo. Ele expressa meu estado de espírito. Já raspei a cabeça por 3 vezes, três iniciações.... a primeira aos 19 anos, no Candomblé, que fiquei linda, com a cabeça bem redondinha; depois em outra iniciação na Floresta Amazônica aos 45, depois aos  52 para uma jornada na Índia.

3.    Quando os primeiros fios de cabelo branco/prata apareceram, como você reagiu e se sentiu?

Os primeiros cabelos brancos apareceram aos 15 anos, e não tive a menor dúvida em arrancá-los, embora achasse um grande barato aqueles fios branquinhos, bem grossos.... Diziam que quantos eu arrancasse, tantos nasceriam. E eu arrancava pois tinha uma cabeleira tão cheia que não faziam falta.


4.    Com que freqüência você pintava seus cabelos antes e de que cor(es)?

Comecei a pintar os cabelos aos 38 anos, Até então não me incomodava ter alguns fios no meio da “Juba”. Mas das pinturas bimensais, mensais, quinzenais.... comecei a sentir uma escravidão, em ter que quinzenalmente ir ao salão. Bem, comecei a pintar em casa, primeiro com Henna, que fazia uma lambuzeira danada. Depois com Xampú tonalizante, depois com tintura. Experimentei todas as cores: Vermelho, marrom, preto, castanho, cobre, loiro, até que um dia uma experiência deu super errado, e fiquei com o cabelo cor de salsicha. Realmente senti que não estava mais afim de tantas esquisitices. Além de começar a ter uma consciência também com relação a química presente nas tinturas.

5.    Você tem noção de quanto economiza deixando de pintar os cabelos? 

Nunca fiz as contas de quanto estou economizando em não pintar mais os cabelos, pois liberdade e aceitação não tem preço.

6.     Quais foram os motivos que levaram a esta decisão de deixar seus fios brancos/pratas em paz?

Tentei algumas vezes deixar os fios em paz, mas com tanta pressão da família e os olhares atravessados, não consegui manter a decisão. Acabava voltando a pintar, mas me sentindo muito infeliz em não ter coragem de assumir a minha escolha. Em 2010 resolvi deixar eles virem com força, se entrelaçando aos pretos, mesclando, confiantes e livres de qualquer produto. Em 2012, cortei bem curtinho para fazer uma viagem à Índia e a partir daí assumi mesmo esta saudável, livre e amorosa aceitação do tempo em mim.

7.    Como os seus amigos, familiares e estranhos reagem e reagiram a esta decisão? 

Ainda existem pressões para que eu volte a pintar. A proposta mais indecente foi a de uma afilhada querida que mora na Índia, que antes de eu embarcar de volta para o Brasil, já sem grana nenhuma, e ainda com vontade de comprar algumas coisas, me ofereceu um bom dinheiro em rúpias, e mais a tinta que já estava lá com ela, para que eu pintasse os cabelos, e fizesse uma surpresa ao chegar em casa. Resisti, ela aumentou o valor, e vou ser sincera : balancei..... Mas não cedi, não por ego, nem para provar nada, apenas por ter um respeito aos meus cabelos brancos. Eles são as minhas vivências, o meu caminho, os meus encontros e desencontros... Me acompanham, amam, choram, e se alegram  comigo. São meus protetores, chegam junto onde eu vou, me protegem.... Existem torcidas para os dois lados, alguns acham lindos, outros acham terrível, e eu amo minha cabeleira.

8.    Como você se descreveria em relação aos seus cabelos prateados e a maturidade?
 
Não costumo usar a palavra “nunca” nem “sempre”, pois elas são muito determinantes, e sinto que prata é o destino dos meus cabelos, irem prateando a minha existência, até o dia que de volta ao lar verdadeiro, já não fazendo diferença, se são coloridos, curtos, compridos, ou brancos. Que a única diferença seja o quanto eles amaram, o quanto eles se soltaram ao vento, o quanto eles sonharam, o quanto eles realizaram, o quanto eles foram felizes e livres. Quantos lugares eles conheceram, quantos afagos receberam e quanto carinho eles transmitiram, quando cheirosos e bem lavados, macios e amorosas se entrelaçaram nas vidas daqueles que amo.