quinta-feira, 9 de abril de 2015

Amadurecer prateada


Olhando as mulheres de cabelos cinza-prateados...
e vem um monte de idéias... e sentimentos!

Ao mesmo tempo que sentimos admiração, e valorizamos a  coragem de não pintar os cabelos, vem aquela perguntinha: por quê deixar vir os brancos?
O medo de envelhecer sempre nos acompanha, pois ele reflete diretamente o medo da morte, da velha amiga de cabelos brancos feitiçeira e velha bruxa com seus encantos, doenças e venenos...,
O medo de amadurecer reflete no medo de se transformar? Teriamos a missão de manter sempre viva a eterna menina e donzela dos mitos da cinderela, da gata borralheira e da bela adormecida, que são sempre perseguidas por vilãs, sempre representadas por mulheres poderosas e belas, de cabelos grisalhos, cinza e prateados?

Como enfrentamos o medo de amadurecer e deixar de ser uma princesa?
Qual é sua história de aceitação e auto-confiança, e de enfrentar sua vilã cinza-prateada?

 Eu consegui enfrentar o medo depois da gravidez  e durante a amamentação da minha filha, que me deram uma forcinha para parar de pintar de chocolate as madeixas prateadas, e escolhi que a vilã iria se torna a mocinha. Algumas mulheres enfrentam o amadurecimento e aceitam seus fios por ordem médica, alergia do couro cabeludo, preguiça de pintar ou outra doença que impeça o uso de tintura..., ou simplesmente porque acordaram e viram que eram lindas e muito muito poderosas.

O problema é vencer o mito da eterna princesa jovial, bela e inteligente: aquela mulher de cabelos perfeitamente pintados e esvoaçantes que corre, malha na academia, cultua o seu trabalho e ainda consegue ter uma familia. Este mito está imbuido na nossa cultura que valoriza a jovem que consegue dar volume ao cabelo e ao mesmo tempo deixá-lo sempre colorido e belo no meio da sua rotina corrida e o salão de beleza. Em cada uma de  nós existe esta imagem colorida da juventude que coloca à margem do preto e branco a velha cabeleira cinzenta, vista como displiscente, da mulher que cedeu e não conseguiu vencer a velhice que a todos acomete.  Como este mito se criou?  A mídia, com certeza deu uma forcinha, alimentada por uma grande industria, que quer perpertuar o mito da eterna princesa colorida e vender esta imagem lucrativa?

Nossas avós, as que nasceram durante o cinema mudo, na década de 1920- 30 sabiam que se fossem pintar o cabelo queimariam o colo cabeludo no salão de beleza, os produtos de tingimento dos fios brancos eram muito agressivos! Além disso, o cabelo colorido num cinema preto e branco não fazia a menor diferença, era tudo cinza mesmo!  Mas até sair o technic color, e as tinturas ficarem menos agressivas,  nossas avós não estavam massificadas e inseridas nesta cultura do mito da jovial princesa colorida. Além disso, elas tinham todo tempo do mundo ocupados com coisas que a elas interessavam: as amigas e a família. Nossas avós quando andavam ao salão de beleza, era somente para cortar os cabelos que ficavam cada dia, cada ano mais prateados. Minha avó e suas amigas que costuravam para os pobres e faziam bazar na Igreja, elas celebravam a idade e a sabedoria, com seus lindos cabelos prateados. Elas não tinham tempo a perder dentro do salão de beleza.

Já a geração de nossas mães nascidas entre a década de 50 e 60, bem, aí a coisa muda de cor! Uma indústria inteira se firmou para pintar milhares e depois bilhões de cabeças..., usando todo meio  de comunicação de massa,  de revistas famosas de moda, até propaganda de TV/cinema em cor, para convencer e vender o mito da princesa de cabeça colorida! Sem contar que os salões de beleza frutificaram, e se espalharam para atender  à nova tendência, ao desejo feminino de seduzir e de se parecer com a atriz famosa tal e a modelo tal, e ficar sempre jovem  escondendo as raizes teimosas que nasciam cada vez mais brancas e pratead. Saiam lindas e com os cabelos coloridos dando um novo ar ao velho e cansativo cabelo branco, o vilão de todo mês, que deveria desaparecer, ser sempre escondido e vencido!!!

bem, como falamos logo no início,  este artigo é somente uma provocação de ideias, para trazer à raiz de nossas cabeças o mito, imagens de nossos desejos...
Inclusive, o desejo sexual,  que pintar o cabelo sempre mexeu com o libido de muita gente! Inclusive o meu.
Será que se deixarmos de pintar o cabelo, perdemos o libido????
Ah o tal poder dos cabelos no jogo da sedução rende outra postagem...

Será que temos ideia do custo e da pegada ecológica que é manter um cabelo colorido para se sentir cheia de libido?

Não percam novos assuntos e até a próxima postagem...







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