quinta-feira, 30 de abril de 2015

Mulheres Prateadas: Ananda Martins

Apresentamos a adorável entrevista com a bela e  jovem Ananda Martins, militante de ações de cidadania urbana e doutoranda em geografia que tem uma relação mais que madura com seu corpo e seu lindo cabelo castanho adornados com fios prateados!




1.    Ananda, conte um pouco  de você, da sua trajetória de vida. 
Meu nome é Ananda Martins, tenho 32 anos e nasci em Americana (SP), e depois meus pais se mudaram para Pernambuco quando eu tinha 2 meses de idade, onde estava a família da minha mãe. Então, com o sotaque que me é peculiar, sempre digo que sou mesmo é pernambucana. Em Recife me formei em Geografia na UFPE, e fazendo pesquisa na área de geografia urbana comecei a buscar o sentido e a utilidade do que alguns chamam do “fazer geográfico”. Decidi, então, que iria continuar minha formação e há 8 anos vim pra Brasília pra fazer o mestrado, que terminei em 2009; vi que não cabia mais em Recife, e fui ficando em Brasília onde me adaptei com alguma tranquilidade. Agora faço o doutorado em Geografia também na UnB, e por meio das atividades de pesquisa, junto com alguns pesquisadores/militantes, faço parte de um coletivo chamado Lutas Urbanas, que tem como objetivo apoiar as lutas urbanas e os movimentos sociais que fazem a luta pelo direito à Cidade.
2.    Qual é a relação que você tem com seu cabelo?
Eu nunca fui de fazer muita coisa nos cabelos em termos de coloração, sempre achei mais legal pensar os cortes do que qualquer outra coisa; talvez tenha sido o trauma de quando era criança que minha mãe me cortava os cabelos curtos por conta de piolho ou coisas assim [risos]. Então, na adolescência sempre os tive mais longos e nos primeiros anos em Brasília optei por tê-los mais curtinhos. Acho legal a composição que o cabelo dá na tua personalidade, mas, ao mesmo tempo, antes de completar 30 anos não me preocupava com cuidados estéticos com taaaanta atenção.
Sempre quis ter os cabelos cacheados – é parece que a gente nunca tá satisfeito com o que tem, mas na impossibilidade de que isso acontecesse (rsrsrs) fui, aos poucos, explorando o que podia, mas ainda assim sem tanta neurose. Hoje me dia até tenho um pouco mais de cuidado, não compro qualquer produto, fico atenta à hidratação, mas mantenho a filosofia da “neurose Zero” [ahahaha], e funciona bem, tem dia que acho que o cabelo está lindo e tem dia que nada dá jeito, assim somos. 
3.    Quando os primeiros fios de cabelo branco/prata apareceram, como você reagiu e se sentiu? Como as pessoas ao seu redor reagiram, se sentiram e, se caso te aconselharam, quais foram estes conselhos?
Lembro-me que estava na faculdade (graduação) quando surgiu meu primeiro fio, assim discreto. E lembro que fiquei muito brava porque um colega viu e sem fazer alarde começou a mexer no meu cabelo e, de repente, ele arrancou; tinha uma sensação do tipo “Que massa! Meu primeiro fio branco!” [ahahahaha] e ele sorrateiramente me tirou isso. Bem, desde então, aos poucos outros foram aparecendo e não me incomodava. Sempre tive uma relação com minha avó paterna (Laiz) muito próxima, apesar de morar em PE e ela em SP, e a achava tão linda e elegante com aqueles cabelos brancos dos quais me recordo até hoje que não me fazia pensar: “Meus Deus! Estou ficando velha antes do tempo!”, ao contrário, pensava “Que legal! Vou ficar linda igual a minha avó, minha flor Laiz”. Então, em relação essa coisa do envelhecer e os cabelos brancos que chegaram tão cedo, na maior parte de tempo (salvo alguns momentos de crise) olhei pra frente, já que com eles vieram também as ricas experiências que ajudaram a compor a pessoa que me tornei.
Já a reação das pessoas tem que ser avaliadas por fase né!? Como no início tinha poucos e estavam mais escondidos, às vezes tinha até q mostrar pra serem vistos, e acho que as pessoas pensavam “essa garota é louca!”; já em Brasília, no decorrer do mestrado eles já era um pouco mais, e tinha época que pintava em casa mesmo, ou fazia mechas, e as pessoas falavam “nossa, mas você é tão novinha pra ter cabelo branco” ou “gente! O que aconteceu contigo que tá cheia de cabelos brancos!?” ahahahaha é a vida né!?
Já no doutorado eles proliferaram bem mais, já não estavam tão escondidos, e até 1 ano atrás, eu acho, eu ainda tonalizava, até que desisti e passei a curtir como estavam fazendo minha cabeça (literalmente), e nessa última fase as reações são as mais diversas: meu companheiro acha legal! Diverte-se dizendo que meus cabelos estão quase pretos (pra não dizer o contrário, já que enquanto tonalizava relutava um pouco em assumi-los – vê a falta que a minha Vó me faz!?); os amigos que me veem com menos frequência ficam surpresos e dizem: “Mas você não tinha esse tanto de cabelos brancos antes...” Alguns com ar de que estão achando legal, outros nem tanto. 
4.    Com que freqüência você pintava seus cabelos antes e de que cor(es)?
Mesmo depois dos 30 me preocupava muito mais com a hidratação do que com a coloração, e sempre optei pela cor mais próxima do meu tom natural (castanho escuro); fazendo assim, tonalizava a cada 2 meses, em casa mesmo pra economizar. Então, pra fazer algo um pouco diferente teve um tempo que comecei a fazer mechas pra quebrar um pouco a mesmice e isso também tinha um intervalo de 2 meses, já que não aparecia tanto a raiz em meio as mechas de tom castanho claro e mel. Salvo uma ocasião que mudei de salão pra economizar, cheguei lá dizendo que queria manter as mechas, mas que em hipótese nenhuma queria que ficassem douradas, ou seja, loira, e foi justo o que fez a cabelereira, então, voltei ao tom do meu cabelo por segurança.
5.    Você tem noção de quanto economiza deixando de pintar os cabelos?
Enquanto fazia em casa o gasto financeiro não era muito alto, de 20 a 30 reais; mas quando passei a fazer as mechas no salão começou a pesar no bolso, pois variava entre 200 a 300 reais. Além do investimento de tempo, já que você ficava pelo menos 2h ali considerando todo o processo. Então, além da economia de dinheiro, tem-se que considerar o que me é ainda mais caro que é a economia de tempo, porque dali em diante, muito provavelmente, a frequência aumentaria, além do dinheiro, e o que inicialmente seria um investimento passa a ser um gasto (de diferentes ordens) que me fez questionar se estava mesmo disposta a pagar. Enfim, decidi que não estava muito afim de, entre tantas demandas, continuar com mais essa.
6.     Quais foram os motivos que levaram a esta decisão de deixar seus fios brancos/pratas em paz?
Nunca tive problema com os fios brancos, ao mesmo tempo, tinha vontade de mudar um pouco o visual – e confesso que às vezes ainda penso em fazer algo.  Ou seja, não tenho uma postura ideológica em relação a isso, acho que as pessoas tem que fazer aquilo que traz o sentimento de estar bem consigo mesma; no meu caso, a composição que esses fios têm dado me agrada bastante e passou a ser apenas mais um elemento na minha esquisitice de cada dia [ahahahaha].
Muito embora, eu me lembre de que isso não foi, no início, uma opção consciente, já que resolvi dar um tempo da tonalização quando usei uma henna que deixou meu cabelo com 3 cores diferentes; aí bateu aquela preguiça de arrumar aquela bagunça, e a observação mais atenta dos cabelos brancos nesse período passou a me fazer sentir que esse poderia ser um processo interessante: assumir os fios brancos e começar a deixar a cabeça pratear.
7.    Como os seus amigos, familiares e estranhos reagem e reagiram a esta decisão?
Atualmente, além da reação do meu companheiro, que parece gostar, há também a surpresa de amigas que não acreditam como posso ter esses fios já há tanto tempo, mas acham bacana e gostam da composição, assim como eu. Há situações em que embora a pessoa ache bacana, sempre tem uma sugestão para disfarçar esses fios, e as melhores opções vem de Juana Franco, do Studio DaRuca, onde corto o cabelo; Juana é uma excelente colorista, e vendo o seu trabalho às vezes me convenço que pode ser legal dar uma variada, até porque tenho certeza da lindeza que ela consegue fazer nos cabelos não só da mulherada, mas também do seu público masculino, mas logo me atento para esses fios e de verdade gosto de como me vejo com essas mechas prateadas. Então, novamente desisto dessa mudança e passo a apostar em outras (cortes, batons, unhas...). Mas, não dá pra agradar todo mundo né!? Um dos meus melhores amigos bate o pé e diz “vai pintar esse cabelo menina! Você é muito nova pra ter esse tanto de cabelo grisalho, parece desleixo!” kkkkkkkkk Só deixo falar porque é ele, se fosse outro dava o limite na hora para parar de cuidar dos cabelos brancos alheios [risos].
8.    Como você se descreveria em relação aos seus cabelos prateados e a maturidade?
Duas palavras poderiam fazer essa descrição, se isso fosse algo de fato simples, seriam elas: (1) Felicidade e (2) Gratidão. Felicidade pelo simples fato de não ser essa uma questão a qual eu dê importância a ponto de definir o bem estar comigo mesma e com aqueles que me cercam, afinal faz parte da vida virem os fios brancos/pratas, as rugas, as gordurinhas que aos 20 anos a gente achava que jamais apareceriam, enfim... Em uma sociedade tão vinculada à imagem e ao consumo gerado para manutenção desta, assumir a maturidade e tudo que ela traz, inclusive fisicamente, parece-me algo saudável; muito embora, advogo que não são as intervenções que você faz no seu corpo, do ponto de vista estético, que faz com que o processo não seja saudável (não estou dizendo que não devemos fazer qualquer mudança), mas devemos ter atenção à motivação pra essas intervenções, pois talvez nos leve a questões de outras ordens, que não exatamente a estética.
A Gratidão... Esse é um exercício diário e me leva na verdade a enxergar que o processo de “estar prateando” é resultado de oportunidades e aprendizados que a Vida pôde me proporcionar. E estes foram necessários ao meu crescimento em um movimento no qual reconheço que a vida não é fácil, que a gente passa por poucas e boas, mas que a gente também deve aprender com tudo isso, e se permitir viver todas as alegrias e as dores, com gratidão aos anjos em forma de amig@s a quem a Vida nos apresenta e presenteia. Então, vejo os fios brancos, nesse caminhar também como um presente que me lembra sempre que, apesar de haver um longo caminho pela frente, eu já dei alguns bons passos, eles são parte das minhas experiências, nem sempre agradáveis, mas sempre importantes.

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