É com grande alegria que abrimos a série de postagens "Mulheres Prateadas" com o relato da engenheira civil Edith Cardoso e seus lindos cachos prateados.
1.
Conte um pouco da sua trajetória de vida:
Nasci carioca da gema, morei muitos
anos no nordeste e há 16 anos vim para
Brasília, para fazer mestrado, tomei gosto pela cidade e acabei ficando. Sou
engenheira civil com foco na área ambiental, mas atualmente trabalho em estudos
e projetos de infraestrutura de transportes. Tenho muito interesse e gosto de
ler e pesquisar sobre alimentação saudável, terapias naturais, espiritualidade,
temas femininos/feministas. Venho exercitando e aprendendo o autoconhecimento,
a maturidade, o empoderamento feminino, a maternidade. Completo 40 anos essa
semana, moro com meu companheiro e nosso filho, de um ano e meio.
2.
Quando os primeiros fios de cabelo
branco/prata apareceram, como você reagiu e se sentiu? Como as pessoas ao seu
redor reagiram, se sentiram e, se caso te aconselharam, quais foram estes
conselhos?
Os primeiros fios brancos deram o ar
da graça ainda na faculdade, por volta dos 22, 23 anos. Herança da minha mãe,
que também teve fios brancos desde cedo. No início não me incomodava, mas rolavam
as piadinhas típicas, e em geral dizíamos que os “culpados” eram os cálculos do
curso de engenharia. Aqui e acolá, eu catava um ou outro fio que aparecia. Parei
de catar pois alguém disse que quanto mais catasse, mais fios brancos
nasceriam! Eram bem poucos mesmo, e só comecei a pintar alguns anos depois,
menos para cobrir os brancos e mais para mudar o visual.
3.
Com que freqüência você pintava seus
cabelos e de que cor(es)?
Acho que comecei a pintar os cabelos
com frequência lá pelos 26 ou 27 anos. Os brancos ainda eram poucos, mas eu
gostava de variar os tons (de preto a diversos tons de castanho e chocolate),
até assumir por um bom tempo a cor vermelha nas madeixas. Nessa época, pintava
de 2 em 2 meses, mais ou menos, em casa mesmo, com tinta. Após alguns anos quis
mudar de novo, e pra vencer o vermelhão, só um preto. E então percebi que os
brancos tinham proliferado bem - o vermelho disfarçava, mas o preto os
denunciava loucamente na raiz, tipo 15 dias depois da pintura kkkkk. A
frequência de pinturas passou a ser mensal, cabelo ressecava mais, depois de um
tempo adotei a henna, queria usar algo não testado em animais e que agredisse
menos o cabelo. A ideia era pintar mensalmente, mas nem sempre tinha tempo e em
geral a raiz estava sempre destoante do resto do cabelo, comecei a ficar
chateada por me sentir “na obrigação” de pintar numa frequência que me parecia
absurda e eu não conseguia “cumprir”. Eu tinha muitas outras coisas a fazer para
dedicar quase uma tarde inteira por mês para pintar o cabelo - isso sabendo que
o ideal seria pintar de 15 em 15 dias, se quisesse ter a raiz “em dia”.
4.
Qual é a relação que você tem hoje com seu
cabelo?
Estou em processo de entendimento e aceitação com meu cabelo. Não apenas
pela cor, mas pelos cachos que já não são os mesmos há algum tempo.
Nunca fui de frequentar salão de beleza, e mesmo em
casa, não costumava ter rotinas de cuidados estéticos, fossem capilares,
faciais, etc. Há pouco tempo adotei a técnica low poo, que basicamente consiste
em não utilizar produtos com certos sulfatos, parafinas, e alguns tipos de
silicones. Na prática reduzi bastante o uso de xampu, e na medida do possível,
faço hidratações e banhos de óleo, em casa mesmo. Com isso venho percebendo do
que meu cabelo precisa, mesmo que na realidade nem sempre eu não consiga
ajudá-lo como gostaria rsrs. Em geral me sinto bem com meus fios brancos,
percebi que o ressecamento e opacidade é que de fato me incomodam, - os cachos
ficam sem definição e os fios brancos ficam espigados - então venho tentando
cuidar melhor dos cabelos. Por exemplo, vinagre de maçã ou de arroz na última
água do enxague realmente ajuda!
5.
Você tem noção de quanto economiza
deixando de pintar os cabelos?
Fiz uma pesquisa na internet pra responder essa pergunta, pois há uns 2
anos parei de pintar. Como pintava em casa e uma vez por mês, acho que a economia
de grana é de uns 30 reais. No caso de fazer mechas no salão (que foi a
experiência mais recente), provavelmente me custaria mais de R$100 por mês!
Fora a economia de tempo e energia, ah!! Essa é imensurável!!
6.
Quais foram os motivos que levaram a esta decisão de deixar
seus fios brancos/pratas em paz?
Então, eu ficava chateada por que percebia que manter os cabelos com uma
cor legal todo o tempo me consumiria um tempo e dedicação a que eu não estava
disposta. Para além disso, já vinha pintando meu cabelo há anos, estava cansada
da rotina (e acredito que meu cabelo também rs), mas me sentia ainda insegura
para parar de pintar. Estava há um tempo pensando em assumir os brancos, e me
encorajei ao conhecer uma moça, mais nova que eu e com lindas mechas brancas.
Pouco tempo depois engravidei, e acho que isso ajudou na aceitação das pessoa
7.
Como os seus amigos, familiares e
estranhos reagiram a esta decisão?
Minha decisão é respeitada, não
costumo ouvir conselhos que não peço, mas algumas amigas acham que eu ficaria
melhor com os cabelos coloridos. Isso não me chateia, cada um tem sua
opinião...mas já ouvi piadinha do meu companheiro, numa ocasião me fiz de
desentendida, em outra fiz uma cara de “isso era uma piada?” e não ouvi mais
nada hehehe. Felizmente, no meu trabalho não sinto nenhuma pressão ou cobrança
nesse sentido. Quem sempre tenta me convencer a pintar é o cabeleireiro. Ano
passado ele conseguiu, e deixei que ele fizesse umas mechas vermelhas (gosto do
vermelho, não resisti à tentação). Foi apenas uma vez, e depois disso fiquei
tentada a pintar de novo, achei legal as mechas por não cobrir todos os brancos
etc, mas além da preguiça da “obrigação” e da rotina de pinturas, percebo que
quando meu cabelo está ressecado (o que acontece quando
pinto) fica muito opaco e então os brancos me incomodam mais. Quando está com a
hidratação em dia, curto o resultado.
8.
Como você se descreveria em relação
aos seus cabelos prateados e a maturidade?
Gosto de ligar o “foda-se” para expectativas alheias, especialmente as
relacionadas ao que só diz respeito e atinge a mim mesma, como a cor dos meus
cabelos. Gosto da minha história e da minha caminhada até aqui, tenho muito o
que aprender e crescer, mas meus cabelos brancos são também as marcas da minha
vivência, assim como outras marcas no meu corpo. Estou feliz com eles, com a
maturidade e com o fato de seguir aprendendo
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